"Que a minha intensidade não me
impeça de respirar vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço
nesse peito que já nem se cabe. Que essas explosões de vida, de beleza e dor me
permitam ao menos, por alguns momentos, absorvê-las com tranquilidade: para que
eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaustão, pois sinto
falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída. Que a
felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar. Que haja alguma
suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e que eu não me emocione
exageradamente com esta delicadeza. Que eu possa contemplar o mar sem que ele
me afogue por completo. Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me
aniquile por lucidez extrema. E que quando eu escrever um texto, ao ser
publicado, assim, despido de qualquer revisão emocional, dotado apenas da
intuição que me foi dada, que encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”.
Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios e
desgovernam melodias. Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais. Que
eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta. Que eu
possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais.
Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta. Que eu possa sentir
tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria. E que, se um dia eu for
abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma
companhia."
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